Como perder uma eleição

Criado sob a imagem de ser um reduto de intelectuais social-democratas, em sua grande maioria egressos e descontentes com os caminhos que o PMDB então começava a trilhar, o PSDB cresceu e chegou ao poder, trajetória que indubitavelmente exige boa dose de inteligência estratégica.

No caso do PSDB, parece ter exigido tanto que esgotou toda a fonte de inteligência. Afinal, não pode ser outra a conclusão ao se observar o comportamento tucano ao longo dos oito anos lulistas no poder, com destaque – negativo, por óbvio – para a disputa eleitoral de 2006, que tem tudo para se repetir em 2010.

Em linhas gerais, o grão-defeito do PSDB foi demonstrar cabalmente que não sabe ser oposição. E não me refiro aqui a questões ideológicas, as quais, ao contrário do que imagina o PT, não devem ser moldadas e contaminadas pela simples vontade de derrubar quem está no poder para se chegar até ele. Refiro-me à atuação inexplicável e extremamente tímida nos mais diversos episódios de corrupção que vieram à tona envolvendo o governo Lula.

Se a desinteligência tucana ficasse exposta apenas no contexto acima, poder-se-ia evocar a teoria do telhado de vidro para explicar tamanho descaso com os vícios dos outros – se eu falar dele, ele vai falar de mim e, como tenho culpa no cartório, melhor então ficar quieto. Como ela, a desinteligência, vai muito além, parece mais adequada a hipótese de que, debaixo do eventual telhado de vidro, vivam não mais do que cabeças ocas.

Eleição presidencial de 2006. Apesar de aparentemente com menos fôlego eleitoral do que Serra, Alckmin bate o pé e sai candidato, jogando o rival interno para o escanteio do governo de São Paulo. Serra não chia muito, pois, nem ele nem os demais tucanos pensantes enxergam qualquer possibilidade de bater o vitaminado Lula. Abandonam, Serra e sua turma, Alckmin no barco à deriva e torcem – sim, o PSDB torceu contra o PSDB! – para que a tsunami Lula estraçalhe as pretensões alckmistas.

Eis o primeiro erro: a rejeição a Lula e sua política na porção Sul do país era maior e mais forte do que o desinformado PSDB previa. Havia boas chances de vencer. Apenas Alckmin e uns poucos parceiros seus as enxergaram e, sozinhos, apostaram nelas. Às vésperas do primeiro turno, bastou mais uma das infindáveis tramoias da grife vermelha para que Alckmin chegasse praticamente empatado com Lula na primeira votação. Serra, de casa, fez beicinho. Agora teria de fingir apoio ao colega de partido no segundo turno. O PSDB teria duas semanas para fazer tudo o que não fizera em seis meses.

Antes não as tivesse. A emenda ficou muito pior do que o soneto. Atarantados – também eles não a esperavam – pela força alckmista, os petistas recorreram ao que mais bem sabem fazer: bravatear sobre o vácuo. Poderiam ter sido ao menos criativos. Não foram. Escolheram para Judas as privatizações. Desandaram a maldizer os tucanos vendilhões do templo chamado Brasil. Qualquer um que estivesse no lugar do PSDB vibraria com a péssima escolha do PT e nadaria de braçadas no tema privatizações, mostrando ao povo que, não fossem elas, ele não estaria agora ao celular comentando com o irmão, do outro lado da linha e do país, o bom desempenho de Lula no debate, para ficar em apenas um exemplo.

Mas o PSDB não. Os tucanos pensantes acharam muito difícil essa explicação. Em vez de mostrar tudo de bom que veio com as privatizações, assumiram uma postura de quase se desculparem por elas. Optaram por – pasmem! – dar razão ao PT. A disputa voltou para onde Lula e sua trupe mais desejavam, o confronto pessoal entre Lula e Alckmin na capacidade de atingir o povo com suas palavras. Enquanto Lula falava em Bolsa-Família, Alckmin falava em desaparelhamento do Estado. Quem será que levou vantagem?

Eleição presidencial de 2010. A campanha nem bem começou e o PSDB já coleciona desinteligências. A começar pela disputa interna entre Serra e Aécio. Ora, é de uma obviedade atroz que Aécio tem de sobra aquilo que mais faz falta a Serra e que costuma decidir eleições: carisma – Serra não consegue nem caminhar com desenvoltura. A união dos dois como cabeça e vice de chapa, prometendo a Aécio – de papel passado, se necessário – o protagonismo no próximo pleito seria o caminho mais correto a seguir. Se esse arranjo não agrada a Aécio, que se deixe o mineiro ir para o Senado, mas se mantenha a promessa para as próximas eleições, sob a condição de apoio total, irrestrito, declarado e presencial de Aécio a Serra por todo o Brasil. Serra depende de alguém como Aécio para lhe oferecer o que não tem e deve ser humilde para se olhar no espelho e reconhecer sua própria imagem. Sem falar que junto de Aécio viria a imagem quase mítica do centenário de nascimento de seu avô, Tancredo. Todos os ingredientes necessários até para uma vitória no primeiro turno.

Mas não, ao contrário disso, tudo indica que Aécio fará mais ou menos o que Serra fez com Alckmin em 2006. Assumir papel absolutamente apagado na disputa. Dilma agradece e até já tomou para si um pouco de Tancredo, em recente visita a Minas. Se o PSDB permite, está certa ela em aproveitar.

Mais algumas genialidades tucanas. A ideia de fazer um lançamento hi-tech da candidatura de Serra, transmitida em tempo real por ferramentas como o Twitter, apesar de interessante, atingiu apenas o público que naturalmente já é eleitor de Serra. Efeito prático quase, senão totalmente, nulo. E o que dizer do escolhido de última hora para ser o principal discurso da solenidade, Fernando Henrique Cardoso, que goza de popularidade semelhante à de Marta Suplicy? O objetivo era fazer Serra ganhar ou perder adeptos no dia de lançamento da candidatura?

Para terminar, a ideia – esta, de tão brilhante, chega a cegar – que vem sendo posta em prática por Serra nas últimas semanas. Em vez de aproveitar a latente desproporção entre sua experiência e capacidade gerencial comparadas às de Dilma, utiliza todas as oportunidades que lhe aparecem para colocar essa diferença em segundo plano, declarando algo como “não é isso que deve ser levado em conta na eleição” ou “não vou falar dos pontos fracos do meu adversário”.

Ah tá, então para Serra a capacidade de governar não é um requisito importante a se avaliar e explorar na hora de escolher o presidente de um país. Seria mentira, mas faria sentido lógico se Serra perdesse para Dilma nesse campo. Sendo a realidade oposta, não tenho mais palavras.

Do outro lado, um tal de Lula, bem mais forte e sólido do que em 2006, já acionou o turbo pró-Dilma há tempos. E os resultados já vão aparecendo nas pesquisas. Com a inestimável ajuda do PSDB, o que parecia improvável há um ano já é agora – e a despeito de todas as limitações de Dilma, exploradas em parte na postagem anterior – o mais palatável para 2011: Dilma presidente do Brasil – só de falar, dá arrepios.

O PT, ao menos, não joga contra si próprio.

O auto da descompadecida

Corre há tempos nos corredores de Brasília a piada de que a diferença entre Dilma e os mais durões ministros e parlamentares é que estes últimos não coçam as partes pudicas.

É piada, mas bem serve para mostrar o jeito Dilma de ser. Nas reuniões palacianas, Dilma grita quando está contrariada, dá murro na mesa para se fazer ouvir, xinga com vontade quem a desagrada, passa por cima de quem dela discorda, não se comove. Essa é Dilma.

Mas, com o verniz original, nunca conseguiria chegar ao principal posto da República num país que preza os bonzinhos, os oprimidos, os chorões. Então resolveram os marketeiros do PT que Dilma deveria repetir Lula e se tornar paz e amor. Mas Dilma está muito longe tanto de uma coisa quanto da outra. E por isso vêm sendo patéticas as suas tentativas de se emocionar, de falar com voz embargada sobre seu amor pelo Brasil. Soa falso porque é falso. Porque não é a Dilma de 62 anos que aparece ali, mas uma Dilma de poucos meses, mal concebida em laboratório.

Muito mais natural é Dilma quando sai da personagem e se deixa influenciar por sua própria essência. Quando diz que não foge da briga, criticando os exilados durante a ditadura militar, por exemplo. Mas então o mundo vem abaixo. Dilma não pode ser Dilma que os cristais se espatifam.

Por serem diametralmente opostas, a Dilma original de fábrica e a recalled continuarão não se bicando até a definição das eleições, quando a primeira poderá dar um bico na segunda e voltar a si.

Até lá, continuamos com uma personagem disputando a presidência do Brasil. O problema, para o PT, é que a atriz é péssima. E, para o Brasil, é o risco, altíssimo, de a maioria de seus eleitores não perceberem esse grave “detalhe”, magnetizados pelo ator principal da tragicomédia, este sim de talento ímpar, Lula.

Para o Brasil, a solução é clara e evidente: não votar em personagens. Para o PT, as alternativas são mais heterodoxas: 1. simular um acidente que deixe Dilma muda até as eleições, colocando Lula para traduzir todas as suas vontades de fala; 2. simular um sequestro “golpista”, trancafiando Dilma numa masmorra até as eleições e colocando Lula para representá-la durante a campanha.

Ou então deixar Dilma à solta e torcer para que, como nas últimas eleições, o carisma de Lula vá encontrar não entre os seus, mas do outro lado o aliado forte o suficiente para a vitória: a absoluta incompetência estratégica do PSDB. Desta falo amanhã.

Lula e a estrela

Aproveitando a onda eleitoral que começa a se formar – e antes que ela se acalme durante a Copa do Mundo -, inicio hoje uma série de postagens, digamos, político-eleitorais.

A primeira delas é sobre Lula, o cara. Aqueles que acompanham o blog já perceberam que não concordo com o estilo de governo dirigista e assistencialista de Lula. Com a tendência a sempre pegar o meu dinheiro emprestado (?) para, sem o meu aval, aplicar em investimentos (?) de “interesse nacional” (o governo Lula adora esse termo), como a famigerada ajuda ao Haiti, quando o Haiti é aqui.

Também não acho que Lula fez internamente nada de essencialmente diferente ao que fizera Fernando Henrique. As diferenças mais marcantes entre ambos ficaram para os ganhos reais de salário que Lula possibilitou aos menos (salário mínimo) e aos mais (funcionalismo público) favorecidos. Externamente sim, houve uma guinada no início positiva, posto que o Brasil passou a agir em vez de apenas sucumbir, como nos tempos de FHC. Mas nos últimos meses, o sucesso dessa estratégia parece ter subido à cabeça de Lula, que, como disse Ciro Gomes, “subiu um pouco no salto” e encarrilhou algumas besteiras mundo afora.

Mas, se o governo não tem nada demais, por que Lula, além de sair ileso de variados episódios de corrupção que varreram todos os companheiros à sua volta, ainda navega há anos na maior popularidade já atingida por um presidente? A resposta é simples: Lula é genial e ainda tem uma estrela que poucas vezes se viu.

A genialidade. Lula sabe como ninguém falar a língua do povo. Até aí, nada demais, afinal, ele é do povo e não tem estudo, dirão alguns. A esses, lembro que milhões compartilham essa condição e nem por isso se expressam com a maestria de Lula. Mas isso não vem ao caso. O ponto é outro. A genialidade de Lula não está no falar com o povo, que, de fato, não é das coisas mais difíceis para ele. Está no falar com o não-povo, com o empresariado, com os banqueiros, com os mais diversos interlocutores estrangeiros, mesmo sem pronunciar uma palavra em inglês. E ser, via de regra, aplaudido com entusiasmo por onde quer que passe.

Nunca houve um governante brasileiro tão internacionalmente elogiado, a ponto de ter seu nome aventado para o Nobel da Paz e tornar até palatável uma posição em órgãos multilaterais do calibre de ONU e Banco Mundial. FHC, o intelectual da Sorbonne, não passou nem perto e, tenham certeza, morde-se diariamente de inveja por isso.

O carisma natural ajuda, é claro. Mas vejam imagens do sombrio Lula-89 e respondam se não é gênio alguém que consegue se transformar no Lula-Século XXI, forte candidato a estadista do século. Puro trabalho de marketing, virão os críticos. Só poderei lamentar a superficialidade do argumento.

O outro ingrediente é a estrela. A de Lula brilha forte. Graças a ela, não foi eleito em 89, em 94 e em 98, quando, em escala descrescente, faria descalabros capazes de colocá-lo no porão da História. Graças a ela, Mário Covas, natural sucessor de Fernando Henrique, deixou-nos antes que pudesse assumir e facilitou a tarefa contra um Serra sempre com cara de anemia, o próprio carisma às avessas. Graças a ela, atravessou oito anos de mandato sem grandes crises nos países emergentes, o que fez transparecer uma mudança nos rumos da economia que nunca houve.

Graças a ela, sairá nos braços do povo e nos dele também poderá retornar, se assim desejar, daqui a quatro anos.

Porque gênio sem estrela não é nada. E de nada adianta ter estrela para os medíocres.

Bolão Coisas Mais da Copa 2010

Além do evento em si, uma Copa do Mundo é legal pelos diversos movimentos que gera em torno de si. Movimentos mais intensos entre apaixonados por futebol como os brasileiros.

Em 2010, a primeira febre que chegou foi a das figurinhas da Copa. Todo mundo tem ou vai ter. E esse negócio de que figurinha é coisa de criança já era. Marmanjos como eu se esbaldam com os cromos autocolantes, embora fosse até divertida a época em que ficávamos com as mãos cheias de cola Tenaz ou Cas-Colar para grudar os jogadores no álbum. E pouco importa que muitos jogadores do álbum não vão à Copa e outros muitos vão à Copa sem estarem no álbum. E pouco importa também o monte de figurinhas repetidas que vai se acumulando e desfalcando nossos bolsos. O que importa é que uma Copa do Mundo traz consigo o dever cívico de ter o Álbum da Copa.

Outro desses deveres é participar de um Bolão da Copa. O bolão pode ser de tiro único para todo o torneio, partida por partida, apenas de partidas do Brasil. Mas tem de ser feito. E quanto maior for a proximidade entre os participantes, mais gostoso. No mundo cibernético, os bolões totalmente eletrônicos e impessoais facilitam a tarefa, mas sem dúvida diminuem o encanto da brincadeira. Não tem mais a graça de poder ver os palpites de todo mundo, de contar os pontos de si e dos outros competidores naquela expectativa, de sacanear os perdedores, de vencer e rir daqueles que financiaram sua vitória.

Buscando o renascimento ao menos parcial dessa porção lúdica da brincadeira, lanço aqui oficialmente o Bolão Coisas Mais da Copa 2010, que já tem todas as regras prontas e também a planilha para inclusão dos palpites.

Os interessados deixem um comentário para receberem todo o manual de instrução. Será bem divertido.

Fórmula (3 em) 1

Dia negro para os irmãos Schumacher e Massa

Por Marcelo Cerri

Mais uma belíssima corrida impulsionada pela chuva e sobretudo pelo grande talento da nova geração. Corrida quase perfeita de Button. Destaque para as inúmeras ultrapassagens realizadas pelo sempre agressivo Hamilton e para aquelas sofridas pelo constrangedor Schumacher. Não acredito que o maior vencedor de todos os tempos tenha já passado por uma situação tão difícil em toda sua carreira. É claro que ele não precisa provar mais nada a ninguém, está lá para se divertir. Mas, pelo que conhecemos do alemão, diversão e vitórias para ele são duas coisas indissociáveis, o que coloca em dúvida sua permanência na categoria por mais de um ano. Aposto que haverá uma troca entre Schummy e Raikkonen na próxima temporada, já que o Iceman não vem fazendo nada de muito produtivo no mundial de rally.

Como a maioria dos brasileiros que viram o GP, não gostei nada de ver a ultrapassagem de Alonso sobre Massa que, no primeiro momento, me pareceu desleal e excessivamente agressiva, considerando que são companheiros de equipe, mesmo que tenha ocorrido dentro da regularidade. No entanto, analisando friamente, vemos que a Ferrari se beneficiou muito com aquela manobra. O fato é que o espanhol é mais rápido que o “nosso” Felipe. Além de ter sido superior ao brasileiro em todo o final de semana, Alonso é nitidamente mais eficiente nas ultrapassagens. Caso Massa tivesse entrado primeiro nos boxes, sua inferioridade em efetuar ultrapassagens faria com que a Ferrari perdesse pontos importantíssimos. Alonso fez o que tinha que ter feito e Massa não tem nada o que reclamar. Apesar de muitos de nós termos colocado em Felipe nossas esperanças de ver um brasileiro campeão novamente, temos que ser realistas e reconhecer a superioridade de seu companheiro de equipe. Muitos, no entanto, podem replicar explicando que o problema do brasileiro é pontual: seu modo de pilotagem não permite que os pneus se aqueçam do modo adequado. Ok. Concordo. Mas isso só confirma que Alonso é mais completo e, portanto, superior. A consequência dessa constatação deverá ser, em breve, um claro e justo favorecimento da equipe a Fernando Alonso. Qualquer outra atitude da Scuderia seria um tiro no pé.

Mais uma excelente atuação de Kubica, ainda que discreta. Parece que a Renault não está para brincadeira, mesmo com toda sua indefinição quanto ao futuro. Já a decepção do dia vai para as Red Bull, que pareciam mais uma vez imbatíveis e acabaram fazendo provas medíocres.

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O melhor e o pior

Por Thiago Barros Ribeiro

Durante a fraca chuva que dominou o GP da China, o desempenho de alguns pilotos me obrigou a concentrar a coluna de hoje em duas questões: quem foi o melhor e o pior da pista. Para a primeira disputa, classificaram-se Jenson Button e Lewis Hamilton. Para a segunda, bem menos honrosa, Felipe Massa e Michael Schumacher.

Já foi dito mais de uma vez aqui que Hamilton é mais espetacular do que Button, o que não significa ser melhor piloto. Hoje, o queridinho da Inglaterra protagonizou as imagens durante a transmissão. Ficar para trás após a decisão de trocar os pneus por conta de uma chuva que não se confirmou, logo no início, permitiu a Hamilton fazer mais uma de suas já conhecidas corridas de recuperação, ultrapassando com arrojo e habilidade. Deu gosto de ver.

Enquanto isso, Button também fez o que vamos nos acostumando a ver dele. Professoral na estratégia de se manter na pista, apostando que esta não molharia o suficiente com o chuvisco do começo, foi sóbrio e eficaz. Não apareceu para as câmeras, mas ganhou sem reais ameaças dos adversários. Chegou a 60 pontos na merecidíssima dianteira do campeonato e, não fosse a discutível entrada do carro de segurança no meio da prova, teria aberto mais do que os 11 pontos que ostenta de frente sobre Hamilton, que, sem o reagrupamento dos carros, não passaria de um quarto lugar.

Button foi o melhor.

No extremo oposto, Massa, para variar um pouco, foi péssimo sob chuva. Mesmo com a punição a Alonso, por queimar a largada, não conseguiu em momento algum abrir boa vantagem sobre o espanhol. E, quando ultrapassado, viu o companheiro sumir à frente. Aliás, o único elogio a Massa fica para sua declaração logo após a corrida, quando reconheceu ter errado na última curva antes da entrada para os boxes, permitindo a Alonso se emparelhar e realizar a polêmica ultrapassagem. De fato, ao analisarmos as imagens, percebemos que ambos já vêm dividindo a reta antes da entrada dos boxes – Massa com meio carro à frente, Alonso por dentro. Se ficassem na pista, muito provavelmente o espanhol ganharia a posição. Por isso, não vejo nada de errado em sua atitude, em acordo com o regulamento e que ainda teve o mérito de ir contra a chatice politicamente correta que domina hoje a Fórmula 1.

Pior que Massa, só mesmo Michael Schumacher, que parece ter uma espécie de compulsão pelo protagonismo. Se não consegue ser o melhor, como antes, tem de ser então o pior, papel que vem monopolizando em 2010. Coadjuvante, nem pensar. Hoje, lembrou muito Morgan Freeman, como o calmo chofer de Jessica Tandy em Conduzindo Miss Daisy. Com sua Mercedes que mais parecia uma banheira prateada, conseguiu desperdiçar por completo as duas sacadas estratégicas em que Ross Brawn lhe deu a chance de galgar posições. Viu ainda Nico Rosberg chegar a 50 pontos, contra seus parcos 10, maior diferença entre todos os companheiros de equipe.

Para os adoradores do alemão, deve ser das piores sensações. Para mim, que nunca vi nele todo o brilhantismo que sempre pintaram, está, confesso, bastante divertido.

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Dois mil e trinta

Por Daniel Marchi

E aí Thiago, tudo bem? Tudo tranqüilo com a família? E o Júnior, foi bem no vestibular? Cara… estava aqui vendo algumas imagens do GP da China de 2010. Que corrida! Lembro-me que o GP da Austrália daquele ano, não sei ao certo se foi o GP anterior, também fora sensacional, mas acho que o chinês foi melhor. Foi um chove-e-pára muito parecido com Donington-93.

Button foi soberbo naquele dia. O cara tinha a calma de um enxadrista e a coragem de um operador de bolsa de valores. Será que hoje as pessoas dão o devido valor a ele? Eu não botava muita fé nele não. Recordo que ninguém entendeu ao certo por que ele trocara uma posição confortável na Brawn/Mercedes para dividir equipe com o multi-campeão Hamilton.

Hamilton… putz, esse foi outro que deu show – mais um – naquela corrida. Lembra que o Lewis tinha um capacete parecido com o de Senna? Pois é… eu acho que não era só o capacete que era parecido não. Como era agressivo aquele sujeito.

Nossa! Já tinha esquecido que foi naquele dia que azedou de vez a relação Alonso-Massa. O que o espanhol tinha de talentoso tinha também de encrenqueiro. Mas tenha dó, né? Precisava fazer aquilo na entrada dos boxes com o próprio companheiro de equipe? Fico imaginando se fosse o contrário. Os dois teriam saído no braço ali mesmo.

Outra coisa. O que foi aquela exibição do Alemão? Será que era ele mesmo dentro do carro? Tomou ultrapassagem de todo mundo, de uns caras que não viraram nada depois. Incrível. Não foi à toa que o filho do Keke deu um baile nele em 2010.

Esse GP está no meu hall da fama até hoje. E esse ano, o que você acha que vai acontecer?

Coisas do Brasil que Fede (CBF)

Estamos a pouco mais de quatro anos para o início da Copa do Mundo em terras nacionais. A essa altura, as obras nas diversas arenas contempladas a abrigar o evento já deveriam caminhar com um mínimo de vigor, posto que ou os estádios atuais não apresentam condições satisfatórias ou simplesmente não existem.

Ao invés disso, e como infelizmente era de se esperar, nenhuma pá de cimento, cal ou assemelhados foi movida até agora e o que se tem já é suficiente para indicar a podridão que circundará o evento nacional.

Falemos do imbróglio que envolve o Morumbi, sede natural de São Paulo ao Mundial. A questão não tem nada de técnica, como tentam vender. É puramente política. O algoz do estádio paulistano também não é Jerome Valcke, secretário-geral da FIFA, mas Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), do comitê organizador da Copa no Brasil e membro do comitê executivo da FIFA, conjunção de atribuições inédita e que, por si só, é absolutamente imoral e repugnante.

Alguns fatos. Tecnicamente, o Morumbi de fato não está preparado para receber jogos de Copa do Mundo. Nenhum dos estádios brasileiros, e nem mesmo o país, estão. Dos doze locais de jogos pré-selecionados, seis não passam de projetos ou esqueletos e os outros seis necessitam de variadas reformas para se tornarem aptos. As recentes tragédias aquáticas em São Paulo e Rio de Janeiro, de tão atrozes, fazem desnecessária qualquer discussão mais alongada sobre a atual incapacidade do país em abrigar o maior evento do mundo – fato que a D. FIFA insiste em fingir que não existe, no seu demagógico rodízio continental de sedes despreparadas, que se iniciará na África do Sul.

Mas, se ninguém tem condições, por que a perseguição apenas ao Morumbi?

Outros fatos. Num movimento que se iniciou com o início de sua gestão, em 2006, e se aprofundou no último ano, o presidente do São Paulo Futebol Clube, Juvenal Juvêncio, tornou-se a principal voz de oposição primeiro à Federação Paulista de Futebol e, depois, à CBF. Por trás dessa oposição parece estar a convicção do folclórico presidente sampaulino de que os clubes devem ser os donos dos próprios narizes, cortando o cordão umbilical que os torna dependentes das federações e afrontando-as quando necessário.

A ideia de Juvenal, claro, não agradou ao fortemente materialista Ricardo Teixeira. O dono do futebol brasileiro torceu o nariz e passou a mostrar o que poderia fazer ao São Paulo se este mantivesse seus absurdos anseios de liberdade. Para mostrar poder, nada melhor do que ter ferramentas para tal. E isso ele tem. Alto executivo da FIFA, trabalhou com força nos bastidores para que o Morumbi, escolha óbvia à abertura do Mundial – está na maior cidade e é o segundo maior estádio do país – fosse visto com maus olhos pela mandatária do futebol mundial e passasse a ser o foco único de críticas, como se faltassem apenas as obras no palco tricolor para que a Copa no Brasil fosse um sucesso.

A recente eleição de Fábio Koff para mais um mandato à frente do Clube dos 13, patrocinada por Juvenal Juvêncio à revelia de Ricardo Teixeira, que tinha predileção por Kléber Leite, entornou ainda mais o caldo para o Morumbi. Por uma dessas coincidências do destino, um dia após a vitória de Koff veio à tona uma notícia do Rio de Janeiro – por meio de O Estado de S. Paulo – segundo a qual um alto executivo da FIFA informava que Valcke viria ao Brasil ainda esta semana, em caráter de urgência, para excluir definitivamente o Morumbi da Copa – notícia até agora desmentida pela própria FIFA. A pergunta que surge de tamanha coincidência é: qual o único alto executivo da FIFA que mora no Rio de Janeiro?

Independente do que seja declarado por Valcke na sua visita relâmpago que se inicia amanhã no Brasil, a disputa ainda deve ter vários novos capítulos. De um lado, Dr. Ricardo e sua forma pouco cristã de entrelaçar poderes na busca por conseguir fazer prevalecer seus anseios cá e acolá. De outro, o São Paulo e o poder público paulista, que tem sido enfático ao afirmar que não colocará centavo que seja na construção de novo estádio em São Paulo.

É esse o cheiro que deverá prevalecer na organização da Copa no Brasil. Isso para não falar nos atrasos de obras financiadas por dinheiro público, que deverão desembocar na urgência que, por lei, torna as licitações dispensáveis e abre a caixa de Pandora tão desejada por alguns, a despeito de todos os males nela contidos. Pior do que esgoto.

E ainda há os que se indignam pelo fato de eu não torcer para a seleção brasileira na Copa. A seleção que tem como sede para seus jogos amistosos o estádio do Arsenal, na Inglaterra. A seleção que inunda os cofres da CBF com milhões ano após ano aplicados em instalações suntuosas e sabe-se lá onde mais, mas nunca vistos nem de binóculos pelos honrados senhores que construíram em campo a marca Seleção Brasileira desde remotos tempos. A seleção que aliena a sociedade durante um mês em que usualmente são aprovadas medidas estapafúrdias nas câmaras legislativas. A seleção que se recusa a dividir alojamentos mais modestos com seus conterrâneos, nos Jogos Olímpicos. A seleção que não é do Brasil. É da CBF.

Não, para ela não torço. E com orgulho.

O pequeno é forte

Deu tudo certo. O pequeno Samp, com seus 11 anos, enfrentou a sala de cirurgia como se estivesse na flor da idade. Ainda está meio avariado e com um daqueles abajoures na cabeça, mas em breve voltará aos tempos áureos.

Recesso findo.

Samp

Tenho várias coisas para escrever. Quero falar da total incompetência estratégica do PSDB nas últimas eleições presidenciais, que beirou a burrice e, parece, está por se repetir em 2010. Quero falar de Lula, a quem considero um gênio, embora esteja longe de ser seu eleitor. Quero falar do absurdo das cotas raciais. Quero falar do fato de a seleção brasileira ter sido flagrantemente beneficiada pela arbitragem em todas as Copas que venceu. E tantas outras coisas quero falar.

E vou falar. Mas não hoje. Não nos próximos dias. Falta-me por estes dias a inspiração necessária. Todo o meu ser está concentrado em gerar forças positivas ao Samp, meu cãozinho, meu filho, que passará por uma grande prova na próxima terça-feira.

Peço desculpas aos poucos leitores que me acompanham. O recesso será breve. E peço, sobretudo, a torcida de todos pelo pequeno.

Ave, Messi!

Minhas primeiras lembranças futebolísticas remontam à Copa de 86. Fragmentos. Além das figurinhas da Elma Chips, com personagens do Snoopy, lembro-me de assistir a Brasil x Argélia no colo de minha tia Rosa, e de ter dormido durante a maior parte do 1 a 0 de Careca. De ver os gols e, principalmente, estranhar a comemoração no mínimo excêntrica dos familiares de Josimar, lateral canarinho. De Butragueño fazendo um gol atrás do outro na goleada espanhola, 5 a 1, sobre a até então “Dinamáquina”. De ter chorado muito e tentado rasgar a toalha do Brasil que ganhara de minha mãe, depois da derrota nos pênaltis para os franceses. De ter torcido para a Inglaterra e depois para a Alemanha contra a futura campeã Argentina.

Tinha 5 anos. A tenra idade da época me impediu de acompanhar o auge daquele que, para muitos, foi o maior jogador dos últimos 30 anos e que, para os argentinos, foi o maior de todos. Maradona foi se tornar mais real para mim já em fins da década de 80, no Napoli, e na Copa de 90, quando, decadente, fez um Mundial medíocre, salvou gol com a mão diante da União Soviética, perdeu pênalti contra a Iugoslávia e, de bom mesmo, teve apenas a jogada para o gol de Caniggia, ante o Brasil. Não vi, portanto, nada naquele tampinha que justificasse tamanha fama.

Claro que, posteriormente, vi e revi quantas vezes possam imaginar as belas imagens de Maradona e de tantos outros – Puskas, Garrincha, Pelé, Beckenbauer, Cruyff, Zico, Platini, Van Basten e por aí vai. Mas não consigo me sustentar apenas em seleções dos melhores momentos de um jogador, seja ele qual for, para considerá-lo o más grande, como diriam os hermanos. Reservo-me, pois, à brevidade dos últimos vinte anos para pontificar o meu melhor de todos.

A eficaz elegância de Zidane, à moda antiga? Os lampejos geniais de Romário dentro da área? As peripécias quase circenses de Ronaldinho? A explosão de técnica e força de Ronaldo, o highlander do futebol? Sempre tive dificuldades com eleições desse tipo e a tendência a escapar com alguma frase tancrediana, do tipo “o melhor tem a classe de Zidane, a habilidade de Ronaldinho, a força de Ronaldo, os lampejos de Romário e a técnica de todos eles”.

Mas essas saídas pela tangente têm se tornado a mim menos necessárias a cada atuação de um argentino, 22 anos, Lionel Messi. Não tem o estilo clássico de Zidane, é verdade, mas alia a habilidade de Ronaldinho, a força de Ronaldo e os lampejos de Romário de uma forma encantadora, entusiasmante, inebriante. Com menos de 1,70m e de 70kg, quando sai em disparada com seus dribles, dificilmente é derrubado por um adversário. Parece levitar a cada carrinho hostil que o tenta jogar por grama. Em poucos centímetros, consegue encarrilhar uma série de cortes desmoralizantes na lista de pobres jogadores errantes que se metem com ele. Cara a cara com os indefesos goleiros, tem uma calma para escolher a melhor alternativa – e como tem alternativas o garoto! – digna dos maiores avantes da história e de fazer corar alguns “artilheiros”.

Um anjo para os seus, um demônio para os outros.

É de um repertório quase completo. Para um menino de 22 anos, mais do que completo. Hoje, após mais um espetáculo a se aplaudir de pé, em que, pelo Barcelona, na Liga dos Campeões, estufou as redes do meu querido Arsenal quatro vezes – do Arsenal, não do Naviraiense ou do Ituano – não me deixou outra opção a não ser exclamar: é o maior do meu tempo, sem sombra de dúvida!

Para completar o belíssimo quadro que vem pintando, resta apenas levar praticamente sozinho o seu país a uma conquista de Copa do Mundo, como fez Maradona, como fez Garrincha, como não fez Pelé. Que me desculpem os compatriotas, sobretudo os pachecos que tanto gosto de criticar, mas torcerei com toda a força para que isso ocorra na África do Sul, entre junho e julho próximos. Vai Argentina! Ele merece.

Fórmula (3 em) 1

O seca-pimenteira

Por Thiago Barros Ribeiro

Desta vez sem chuva, os madrugueiros puderam assistir a mais um belo espetáculo de Fórmula 1. Não com tantas alternâncias e reviravoltas como as possibilitadas pela pista e pela umidade australiana, mas muito superior ao marasmo que costuma caracterizar a Malásia – até quando choveu, no ano passado, a corrida não se salvou, tendo sido interrompida antes do final. Já não há mais dúvida de que, depois de muitos anos de tiros pela culatra, as mudanças regulamentares para 2010 melhoraram a categoria.

Vettel terminou a terceira etapa do ano como poderia ter concluído as outras duas, em primeiro. Não fossem as falhas mecânicas, o alemão contabilizaria 75 pontos e o tão glorificado equilíbrio de agora seria obra de ficção. O subjuntivo passado peca por não existir, é fato, mas a hipótese não verificada é importante para lembrar que, num campeonato em que a vitória vale 25 pontos e o segundo lugar 18, qualquer série de três vitórias pode jogar o pretenso equilíbrio por água abaixo. E que, mirando apenas o desempenho dos carros na pista, essa série já poderia ter existido neste ano. Não existiu, o que foi ótimo para o campeonato. Mas não sejamos afoitos.

Afoito como pareço ter sido eu, ao apontar Alonso como provável campeão depois da primeira corrida. Na verdade, uma precipitação calculada, para fugir do lugar comum. Mas, depois de feita a profecia, o espanhol colecionou azares nas duas etapas seguintes, abalroado por Button na largada australiana e com problemas no câmbio em praticamente toda a corrida de hoje.

Não posso, diante disso, esconder o meu lado seca-pimenteira quando o negócio é advinhar o campeão mundial de Fórmula 1. Vejam o “invejável” retrospecto: 2007 – aposta: Alonso, campeão: Raikkonen; 2008 – aposta: Raikkonen, campeão: Hamilton; 2009 – aposta: Vettel, campeão: Button. O pobre Alonso, percebe-se, terá de correr contra os adversários e contra a minha santa boca.

Massa, que não tem nada a ver com isso, teve sua melhor atuação justamente na corrida em que chegou mais atrás. Largou outra vez muito bem, beneficiou-se com as paradas das Toro Rosso, já que não conseguia ultrapassá-las e ia perdendo um belo tempo por ali e, depois da troca de pneus, andou bem, protagonizando a melhor monobra da corrida, na ultrapassagem sobre Button. Sai com a liderança no bolso e, embora para mim ainda não tenha pinta de campeão – o que pode ser bom para ele, como se viu -, vai se saindo bem por ser, entre os reais postulantes ao título, o até agora menos afetado pela falta de sorte, sua companheira fiel em 2008 e 2009.

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Massa à la Globo

Por Marcelo Cerri

Terminada a terceira etapa do campeonato e a luta pelo título continua uma grande incógnita. Temos oito pilotos separados por apenas nove pontos, o que é uma diferença mínima se considerarmos que uma vitória vale 25 pontos. Em termos proporcionais, seria mais ou menos como se tivéssemos os mesmos oito pilotos separados por quatro pontos, considerando a pontuação dos últimos anos.

Começo com essa ponderação para falar da liderança de Massa na classificação de pilotos. O ufanismo reinante nestas terras certamente já está provocando fervuras no sangue tupiniquim. Mas ao analisarmos friamente a situação do brasileiro, recebemos uma ducha de água fria: as chances de Massa ser campeão não são lá tão grandes. Não é pessimismo. Simplesmente temos que reconhecer que Alonso é sistematicamente mais rápido, mais de meio segundo por volta. Foram os problemas no câmbio e no motor que o levaram a perder a liderança para Felipe, que também deverá passar por adversidades do mesmo gênero, ainda mais se considerarmos que a italianada da Ferrari não consegue passar duas corridas sem fazer uma besteira monumental (a estratégia suicida dos treinos classificatórios do último sábado é um bom exemplo). Além da superioridade do companheiro de equipe, há a RedBull com um carro evidentemente mais veloz. Isso nos faz lembrar que Vettel somaria 75 pontos no momento e lideraria o campeonato em modo schumacheriano caso não tivesse quebrado nas duas primeiras corridas. Também temos a McLaren, a Mercedes e, correndo por fora, a Renault do excelente Kubica, que estão na briga.

Quem assistiu à classificação deve ter notado um comentário bastante constrangedor de Galvão Bueno. Após mostrarem como funciona o novo volante da Ferrari, o qual, aliás, me pareceu beneficiar o Espanhol, nosso justíssimo narrador de corridas deu uma bronca ao vivo em quem montou aquelas imagens, pois esqueceram retirar delas o patrocínio. Isso é um absurdo comercial! Raciocinemos um pouco: uma empresa paga milhões para ter sua marca estampada em um carro com a intenção apresentá-la aos potenciais clientes nas oportunidades em que tal parte de tal carro aparecer nos meios de comunicação. A emissora de TV consegue audiência mostrando tais imagens ao público. É uma troca justa. Mas a Globo se coloca no direito de escolher quais marcas vai promover, quais não. Por exemplo, a Renault pode ser chamada de Renault, mas a RedBull é RBR, pois a emissora não pretende fazer propaganda de graça das bebidas energéticas. Mas será que é mesmo de graça? Ontem a Globo arrecadou milhões do Banco Santander para transmitir a vitória das RedBull, mas a mesma emissora não divulga as marcas que constroem o show que ela mesmo vende!

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Raça

Por Daniel Marchi

Vettel fez ótima largada e venceu. Enfim a Red Bull conseguiu converter volume de jogo em gol. Não tenho muito a acrescentar a este bom GP da Malásia, que aconteceu sem a ocorrência de chuva bíblica como se previa ou como ocorrera em 2009. O tempo por lá é demasiado rebelde. Penso que as críticas feitas a Ferrari e McLaren sobre uma suposta falha de timing no treino de classificação foram um pouco exageradas. Num nível de competição intenso como a F-1, principalmente nas grandes equipes, o processo de tomada de decisão não se resume a uma ordem de um diretor sabichão. De qualquer modo, os quatro carros acabaram por fazer boa prova.

Na verdade, hoje eu gostaria de palpitar sobre uma característica de pilotagem que me chama muito a atenção nos pilotos e que, na minha opinião, separa os grandes dos esforçados. Falo da celeridade – cacoete de bu(r)rocrata –  nas ultrapassagens. Essa habilidade se mostra com todas as cores em provas como Austrália e Malásia, quando grandes pilotos/carros se vêem no fim do pelotão.

Rapidamente me vêm à mente os dois ETs, Senna e Michael Schumacher. Ambos tinham, como direi?, uma raça impressionante. Conseguiam colher dois ou três carros por volta; em dez ou doze giros saiam do fundo para a antiga zona de pontos. No caso de Senna, os casos emblemáticos foram Suzuka-88 e Donington-93, esta última considerada a melhor primeira volta de todos os tempos. Schumacher, o homem que entendeu como ninguém a dinâmica de uma corrida, especialmente com reabastecimento, não foi pior. De bate-pronto, lembro-me que ele fazia uma recuperação fantástica no dilúvio de Spa-98 até encher a traseira de Coulthard. Registro também sua última prova pela Scuderia, Brasil-06. E é isso que mais tenho sentido falta em seu retorno.

Adiantando o tape, temos a turma de hoje. Vejo Hamilton como o melhor de todos nesse quesito. Na grande maioria das vezes, toma as decisões corretas e parte pra cima; não se enrola com quase ninguém. Na seqüência, vem Alonso, sempre muito seguro e sem frescuras. Por outro lado, um dos piores que já vi nesse assunto é Rubens. Sua tocada é boa, cometeu pouquíssimos erros de pilotagem ao longo de sua grande carreira, mas sempre vacilou muito na hora do pega-pra-capar. Estuda demais, entendem? Eu sei que não é fácil como no PlayStation, mas no final das contas isso determina se o camarada vai beber champagne ou gatorade. Curiosamente, sua primeira vitória foi partindo de 18° e engolindo todo mundo. Mosca branca. Outro que costuma se complicar é Massa. Quando parte da frente é uma fera. Mas se é preciso remar um pouco…

Esse rodeio todo para concluir o seguinte. Num campeonato com vários carros em alto nível, como parece ser a perspectiva para o de 2010, a capacidade de fazer bons resultados em situações difíceis fará a diferença. É por essas e outras que Massa como líder do campeonato tende a ser um fato efêmero, como efêmeros foram os ovos de Páscoa hoje. Torço para queimar a língua.